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Iniciativa alfabetiza operário da construção civil em Pernambuco

Por Jornal Valor - Luiz Herrisson   13 de novembro de 2001
Setor que mais concentra mão-de-obra não-qualificada na indústria em Pernambuco, a construção civil começa a mudar esse perfil no Estado. Algumas empresárias do ramo se uniram e resolveram enfrentar o maior obstáculo dos operários para melhorar a qualificação: o analfabetismo.

Há cerca de dois anos e meio, quando surgiu o projeto "Alfabetizar é Construir", idealizado no núcleo feminino do sindicato das construtoras, cerca de 45% dos trabalhadores da região metropolitana de Recife, ou 18 mil pessoas, eram analfabetos ou semi-analfabetos. Hoje, esse contingente diminuiu 5%, com a alfabetização de 890 operários.

A meta do projeto é mais ambiciosa. "Podemos não acabar com o analfabetismo no Brasil, mas vamos eliminá-lo do setor da construção em Pernambuco", afirma a empresária Solange Lino, da construtora Antenor Lino e coordenadora do programa. O sucesso da empreitada, explica Solange, é o seu modelo de concepção e execução. Em primeiro lugar, as aulas ocorrem nos canteiros de obras. "Em outros Estados já houve projetos semelhantes que fracassaram por ministrar aulas fora do ambiente de trabalho", diz a empresária.

Isso ocorre porque muitos trabalhadores não admitem, para pessoas estranhas, que são analfabetos. "Dentro do canteiro de obras o problema não existe, porque os colegas já sabem do fato e também são analfabetos", observa Solange. Segundo ela, as salas não são improvisadas, mas espaços construídos apenas para esse fim. "Transformar refeitório em sala não cria espírito de aprendizagem", argumenta.

O programa do curso, elaborado pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), é voltado para o cotidiano do público-alvo. "Os temas abordados são aqueles do dia-a-dia da obra, como materiais de construção", comenta.

O Sesi também fornece o professor, que é um estudante universitário de pedagogia ou letras. As aulas ocorrem de segunda a quinta-feira, das 18h às 20h30, após o horário de trabalho. A duração do curso é de seis meses, podendo ser renovado.

No projeto, cada construtora arca com os custos da construção da sala de aula, fornece o jantar aos alunos, o material didático, e paga a bolsa do monitor. No início, nove construtoras compraram a idéia e montaram sala de aula em seus canteiros.

Hoje o número de empresas se mantém, mas o total de salas mais que dobrou, chegando a 20. Para 2002, a meta é alcançar 30 salas, com a adesão de grandes empresas.

Para satisfação de Solange e demais empresários parceiros, o programa não se limitou à alfabetização. Muitos alunos se interessaram em continuar os estudos. Alguns deles já concluíram a quarta série do ensino fundamental e se preparam para participar de cursos profissionalizantes, como marcenaria e pintura.

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