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Mais crianças morrerão

Por Diário de Natal/ Marina Oliveira   23 de outubro de 2001
Do Correio Braziliense

O pior tempo para nascer. O final de 2001 e o ano de 2002 serão terríveis para as crianças do mundo inteiro. Famílias com a possibilidade de escapar da pobreza nos próximos meses, devem continuar miseráveis. Outras, um pouco mais remediadas irão perder o pouco poder aquisitivo e entrar no grupo de 1,2 bilhão de pessoas que sobrevivem com menos de US$ 1 por dia. Os filhos dessas famílias serão as maiores vítimas da guerra, começada nos ataques aos Estados Unidos.

O efeito da recessão econômica aparece primeiro nas crianças. A falta de comida provocada pela diminuição na renda, por exemplo, traz a desnutrição. Isso porque os meninos precisam de uma alimentação melhor por estarem em fase de crescimento. Além disso, biologicamente suportam por menos tempo a ausência de comida adequada. Segundo estimativas do Banco Mundial (Bird), 40 mil crianças a mais morrerão de fome por causa da recessão provocada pelos ataques terroristas aos Estados Unidos. Anualmente morrem 40 milhões de crianças no mundo antes de completar cinco anos. Pais com menos renda também costumam tirar crianças da escola e mandá-las para o trabalho. Outro efeito perverso da guerra. ''Há uma relação absolutamente clara entre a queda da atividade econômica por um lado e a mortalidade infantil e a pobreza por outro'', destacou o presidente do Bird, James Wolfensohn.

A Etiópia, uma das nações mais pobres da África, encaixa-se no perfil dos países que serão mais atingidos pela crise econômica. Com 60 milhões de habitantes, o país enfrentou nos últimos trinta anos guerras civis, fome e falta de comida, sem nunca conseguir se recuperar. A Etiópia tem a mais alta incidência mundial de desnutrição. Em 2000, dez milhões de pessoas precisaram de ajuda de agências internacionais para conseguir comida.



Foco na infância

O Bird anunciou que irá concentrar investimentos em programas de alimentação para crianças e de manutenção dos alunos na escola. A direção do banco definirá em negociação individual com os países subdesenvolvidos quanto será aplicado.

A guerra faz parte da vida de milhões de crianças no mundo. Este ano, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou o primeiro relatório mundial sobre o efeito dos conflitos nessa população. O documento apontava as guerras civis e o tráfico de drogas como as novas ameaças à infância mundial.

Em 1995, havia 15 países em conflito civil no mundo. Quatro anos depois, o número subiu para 55. A mudança no formato da guerra, trouxe as batalhas para a porta das casas e alterou o perfil das vítimas. Nas últimas duas décadas, a proporção de civis mortos em guerra subiu de 5% para 90%. Isso aproximou os horrores da luta das crianças.

Em países como Ruanda, 90% das crianças viram um parente próximo ser assassinado por guerrilhas. Menores de 16 anos foram armados para a guerra. Hoje, existem 300 mil soldados com cara de menino no mundo. As estatísticas nem dão conta das meninas mantidas como prisioneiras de guerra e usadas como escravas sexuais nos ''modernos campos'' militares.

Famílias inteiras, sem casa e sem segurança, fugiram para escapar das batalhas que tomaram conta das cidades e vilarejos. Dos 53 milhões de refugiados do mundo, metade são crianças. Quase três milhões delas acabaram separadas da família na fuga. Os soldados civis brigam por migalhas ou pelo controle de rotas de drogas ou redes de corrupção altamente rentáveis. Em Serra Leoa, país de meninos armados os diamantes financiam a destruição do país, em guerra civil há anos.

Segundo o relatório do Unicef, as crianças de hoje se encontram presas no meio de conflitos complexos e confusos, sem perspectiva de solução a curto prazo. ''Estão sendo sugadas por lutas aparentemente endêmicas por poder e riquezas''. A observação é um recado claro aos analistas internacionais que minimizaram a importância das lutas étnicas em vários países como brigas ''tribais'', depois da Guerra Fria.

Gerações de meninos e meninas afegãs, por exemplo, foram esquecidos pelo mundo. Eles cresceram e tiveram filhos em meio a guerras sem fim. Nesse processo, deixaram de se horrorizar com a guerra. O mundo agora se arrepende.



Brasil vai vender menos

A balança comercial brasileira corre risco de ser prejudicada. O relatório do Banco Mundial prevê que, por causa da recessão global, haverá queda no consumo e no preço de produtos agrícolas. Entre janeiro e agosto de 2001 esses produtos representaram 36,04% das exportações do país.

O economista do Banco Mundial Joachim Von Amsberg, especialista em Brasil, avalia que o país será menos prejudicado, mas está longe de ser totalmente poupado dos efeitos do atentado terrorista nos Estados Unidos. Umas das conseqüências do ataque foi o aumento da percepção de risco dos países emergentes o que, na prática, significa que as agências da avaliação questionam a capacidade de alguns países - com perfil econômico similar ao brasileiro - pagarem suas dívidas. O Brasil depende de financiamento externo. O capital provavelmente virá, porém bem mais caro.

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